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PESQUISAS

RAÍZES DO MOVIMENTO: uma vivência nas danças negras Afro-Brasileiras e Tradicionais do Senegal

Âncora 1

FERNANDA DIAS

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A proposta investiga a elaboração do corpo cênico, despertado pelas danças negras, através da memória dos sentidos. Ou seja, a abordagem artística-pedagógica-ativista propõem que o corpo atuante nas artes da cena, possa criar e recriar sua partitura corporal ou sua composição coreográfica, vivenciando de forma estética, política e poética o repertório das danças negras brasileiras em especial, as danças elaboradas por Germaine Acogny. E para que essas criações corporais, se afastem cada vez mais da simples forma, é ofertado ao artista despertar os sentidos assentados em sua memória. Trocando em miúdos, proporcionar que as memórias vividas despertem sentidos que resvalem no corpo provocando assim, uma releitura do saber fazer corporal.

 

O flerte com a proposta citada começa em 2010, quando já tinha mais três anos de experiência prática nas danças afro-brasileira elaborada por Mercedes Baptista. Na ocasião, participei do III Festival Mundial de Artes Negras - FESMAM em Dakar, capital do Senegal e me deparei com múltiplas danças, utilizadas de diferentes formas. Embora a primeira o que saltava eram o repertório de movimentos, outras informações imperceptíveis se manifestavam. Essa primeira experiência no Senegal que durou vinte e cinco, me fez ao retornar ao Brasil questionar; Porque as danças de matrizes africanas raramente são consideradas como arte? Porque no Brasil, em especial no Rio de Janeiro as danças negras são ignoradas e não acessam ao clube seleto da dança? Como uma entusiasta da dança afro-brasileira, resolvi agir com ações concretas e continuadas para transformar esse cenário. 

Uma delas foi o trabalho de conclusão do curso de Pós Graduação em Preparação Corporal para as Artes Cênicas, na Faculdade de Dança Angel Vianna com o a escrita “A dança dos orixás na preparação corporal p ator. Uma experiência vivida junto ao grupo Cor do Brasil”. Em seguida, segui com a pesquisas aprofundando-me no legado deixado por Mercedes Baptista entendo que os movimentos e todos conteúdos estéticos e simbólicos contidos na dança afro-brasileira, poderiam estar a serviço da preparação corporal para atores. Nesse ínterim questionava-me porque que quando se pensa em preparação corporal para o ator, raramente as danças de matrizes africanas são utilizadas? Movimento que comprova o racismo estrutural que assola a cultura e os corpos negros negra todos os dias. Discussão que foi desenvolvida no curso de Mestrado na UNRIO com o título “A dança negra de Mercedes Baptista e o gesto cênico”

Em 2015 retornei ao Senegal, na ocasião para participar do Estágio em Danças Tradicionais e Contemporâneas do Senegal, na Ecole des Sables. Aquele universo de dança conectada aos elementos da natureza, o amplo repertório de movimentos e as partículas invisíveis que despertam os sentidos que estão por traz dos movimentos, revigorou a pesquisa que vem sendo desenvolvida no doutoramento e Artes na UERJ. A proposta agora é que os e as artistas da cena, (dança e teatro) possam expressar os sentidos, com suas partituras corporais, através das danças negras e que além de alimentar de gestos e movimentos, esses sentidos possam também transbordar para a cena como um todos, ou seja, possam afetar a encenação e tudo que nela estiver inserido. Assim, tendo como base o trabalho de dança desenvolvido pela bailarina senegalesa Germaine Acogny, na Ecole des Sables a pesquisa a princípio intitulada “A relação do corpo com a memória dos sentidos. Penando Germaine Acogny”, pretende versar sobre a importância do despertar dos sentidos na dança e na cena. Para além disso, a pesquisa também irá com uma escrita mais extrovertida e performática, aportar em territórios sobre as sujeitas femininas negras que passam e perpassam a presente pesquisa que sendo desenvolvida também na prática, na dança e na vida. 

 

Esse entendimento sobre dança, que dá foco a noções eurocêntricas e ignora outras indicações, coloca essa arte dentro de um clube seleto onde a Dança Negra não é aceita como novo membro. E porque dar as costas para danças que chegaram em território brasileiro, antes das referências não negras aqui aportarem? Porque danças com referências não europeias, raramente são entendidas como arte? Será que os espaços formais e não formais de ensino de dança, tem a sua parcela de responsabilidade, propagando essa rejeição a Dança Negra? Vale lembrar após a abolição, com o aumento da população negra nas ruas rapidamente as leis evoluíram para criar mecanismo de vigilância e controle, sobretudo dos corpos que carregavam a negrura na pele. Posso citar a lei da vadiagem que perseguia principalmente negros capoeira. A origem da criminalização da vadiagem no país aparece no Código Penal de 1890, no qual vadio incluía a exibição pública de "exercícios de habilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação de capoeiragem" (CAPOEIRA, 1998, p.35) que prendia quem fosse pego praticando este exercícios.

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